Como é fazer o Caminho de Santiago a pé

Peregrinos fazendo o Caminho de Santiago a pé

Como é fazer o Caminho de Santiago a pé

Por Ruth Lima*

Fazer o Caminho de Santiago a pé é uma jornada muito pessoal e a experiência é diferente para cada pessoa (ok, isso é lugar comum, mas é a verdade). Você continua andando, mesmo com as bolhas, com a chuva, com o cansaço. Fazer o caminho é um encontro com as suas limitações e com você mesmo.

Nós fomos em um grupo de cinco mulheres. Eu e a minha irmã tínhamos perdido nossa mãe há poucos meses. Fomos criadas em uma família católica então essa experiência foi muito intensa para nósA maioria das pessoas faz o caminho por razões espirituais – não necessariamente uma fé católica – mas muitos vão por desafio pessoal, em busca de paz para refletir sobre a vida.

Nosso grupo na Caminho de Santiago

Nosso grupo no Caminho de Santiago

Os oito dias do caminho foram uma deliciosa coleção de experiências, crescimento pessoal e dicas de sobrevivência, que eu compartilho aqui com vocês.

Vai uma ajudinha aí?

Solidariedade é regra geral no Caminho, os peregrinos se ajudam, mesmo sem se conhecerem.  As pessoas param sua caminhada para ajudar as outras, dão remédios, roupas e outras coisas aos colegas de albergue. Lá não tem distinção social, todo mundo parece igual – seja um empresário rico ou um camponês muito pobre – e unidos pelo mesmo objetivo de fazer o Caminho de Santiago a pé.

Não precisa falar espanhol

Ninguém falava espanhol na nossa turma e a gente conseguiu se virar muito bem com o “portunhol”. As pessoas que vivem e trabalham nessa região estão habituadas a se comunicar com estrangeiros e têm boa vontade para entender. Se você fala inglês, ótimo, quase todo mundo (menos a gente! risos) fala o idioma de Shakespeare por lá.

Bolhas

Eu já comentei nesse post sobre o “kit anti-bolha” pra levar na mochila. Para prevenir o aparecimento do inimigo número um dos peregrinos algumas dicas são:

  • escolher bem as meias: usar uma meia fina por dentro da meia grossa
  • usar sempre meias limpas a cada dia e não usá-las úmidas
  • usar sapato adequado (óbvio)
  • lavar os pés imediatamente após a caminhada
  • passar vaselina, Vick Vaporub e/ou talco entre os dedos, isso diminui o atrito. Não invente de passar demais nem misturar os três. Eu não usei, mas outros peregrinos me disseram que o talco anti-séptico da Granado é muito eficiente.
Problemas com bolhas no Caminho de Santiago

Pausa forçada pelas bolhas

Caso seja contemplado com uma bolha ou mais não desanime – você estará na mesma situação da grande maioria dos que percorrem o Caminho de Santiago a pé. Aí começa a “operação cura-bolha”, para que ela não aumente e fique doendo. Todos os dias ao chegar no hostel a gente cuidava das nossas. O processo é: fure a bolha com agulha (desinfetada!) e linha e mergulhe a bolha na água oxigenada, iodo ou álcool iodado (álcool de rameiro). Deixe a linha ficar traspassada no interior da bolha e drene aquela aguinha. Não tire o fio lá mesmo, ela servirá como dreno evitando que a bolha se encha novamente de água. Passe algum tipo de pomada cicatrizante e cubra com band-aid. 

Se você acha que só você está sofrendo com bolhas e dores nos pés, preste atenção na chegada dos peregrinos pro pernoite. É um consolo e muito divertido ver o pessoal chegar tentando manter a dignidade “ok, eu não estou mancando” mas ninguém consegue disfarçar que tá acabado (risos)! Tem gente que é mais “sincero” e chega quase caindo no chão.

Carimbe a sua Credencial do Peregrino

Como eu já contei aqui, você faz a Credencial antes de começar o Caminho. Esse documento precisa ser carimbado todos os dias durante a caminhada, para comprovar sua passagem. Quase todos os estabelecimentos comerciais que oferecem serviços aos peregrinos fazem isso: hospedagens, restaurantes, cafeterias. E também nas igrejas e prefeituras. Ao chegar a Santiago e apresentar a sua Credencial devidamente carimbada, você recebe a Compostelana, um certificado concedido aos peregrinos que fazem no mínimo 100km a pé (ou 200km de bicicleta ou a cavalo) até Santiago de Compostela. É escrito em latim e igual aos concedidos na Idade Média.

Compostelana Caminho de Santiago

A Compostelana

Quatro estações em um dia

Na Galícia (região da Espanha onde fica a cidade de Santiago) o clima muda muito rápido. Chove bastante, aí a temperatura cai, logo para de chover, o sol aparece e esquenta muito. Se você optar por não carregar a sua mochila grande na caminhada, leve uma mochilinha pequena com casaco, capa de chuva e chapéu – ou seja, preparado para as quatro estações do dia. Dá pra contratar baratinho um transporte para a sua mochila até o povoado seguinte, tem informações nesse post.

Clima no Caminho de Santiago: frio

No Caminho de Santiago às vezes faz frio…

Clima Caminho de Santiago: chuva

…chove (e fica tudo enlameado)…

Clima Caminho de Santiago: sol

…e também faz sol. Tudo no mesmo dia.

Água de bica e “self-service” de frutas

Pelo caminho é comum encontrar bicas de água, que são colocadas para os peregrinos poderem matar a sede e se lavar. Tem a indicação se a bica é de água potável ou não potável. Eu me confundi e bebi água da bica não potável (risos), mas não deu problema. Também encontramos muito umas mesinhas com frutas para vender. Só que não tem ninguém para “tomar conta”! Tem uma plaquinha com o preço e quem quiser comprar as frutas, deixa o dinheiro lá. Ainda tem um potinho com o troco.

bica de água Santiago de Compostela

Essa bica é a certa (de água potável)

Mesinha de frutas no Caminho de Santiago de Compostela

Lavagem de roupas

Ah, você vai ter que lavar roupa durante o Caminho. Elas sujam muito, principalmente as meias, e não tem como levar um monte de roupa na mochila para ir trocando. Quando você chegar de noite no albergue, tem que jogar a preguiça de lado e lavar a roupa, não tem jeito. Em muitos albergues tem tanque e nos hostels privados tem máquina de lavar roupa e secadora. Custa mais ou menos três euros por lavagem e mais três para secar. Cabem uns seis quilos de roupa por máquina, mais do que o que você vai precisar por pra lavar, então junte-se com mais dois ou três peregrinos para economizar.

Quando o albergue está cheio a fila é inevitável e muitas vezes é um teste de paciência. Se tiver chovendo no dia, a situação piora porque a roupa demora mais pra secar e tem menos espaço para estender. Quando a roupa não seca cada um inventa um meio de carregar por fora da mochila na caminhada do dia seguinte.

mochila com flores no Caminho de Santiago

A mochila serve para pendurar roupas molhadas e… flores 🙂

Não fique sem dinheiro vivo

A maioria dos lugarejos não tem caixa eletrônico então é bom saber mais ou menos quais serão os seus gastos até o próximo lugar onde você possa sacar dinheiro. No trecho que a gente percorreu só em as cidades de Sarria e Porto Marim contavam com eles.  Assaltos são uma raridade por lá e não maiores problemas em andar com muito dinheiro na mochila.  

Leia dicas de como se preparar para o Caminho de Santiago e onde se hospedar por lá.

*Ruth é uma jovem viajante de 66 anos que já conheceu dez países desde que se aposentou. Gosta de montar seus próprios roteiro de viagens e substituiu as agências de turismo pelos milhares de blogs que adora ler.  

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