
28 out Dia dos Mortos na Bolívia tem comida e festa no cemitério
O Dia dos Mortos na Bolívia tem uma tradição muito rica – e curiosa – de celebração dessa data: os cemitérios ficam lotados de famílias que se juntam para comer, beber, tocar e cantar, decoram os túmulos com cores e até pagam pessoas para chorar pelos seus parentes já falecidos.
Durante o meu mochilão pela Bolívia eu estava em Sucre no Día de Los Muertos e, claro, fui conferir a movimentação no cemitério. A festa começa ao meio-dia de 1º de novembro que, segundo a tradição, é o momento os espíritos “ganham permissão” para descer ao mundo dos vivos. Nesse primeiro dia a reunião costuma ocorrer nas casas: as famílias se preparam como se fossem receber um parente que está viajando há muito tempo.
Decoração festiva e comidas típicas no cemitério
As famílias costumam se reunir novamente no dia seguinte, (2 de novembro) dessa vez para ir ao cemitério. O costume é decorar os túmulos com flores, guirlandas de cores chamativas (que lembram um pouco a decoração usada no México) e velas coloridas. Junto ao túmulo se colocam frutas, doces, água ou outra bebida do agrado do morto (eu vi refrigerantes, umas bebidas coloridas que eu não consegui identificar e descobri que tá cheio de morto que curte um aguardente 🤣). A ideia é recepcionar o parente em visita ao mundo dos vivos com o que ele mais gostava de comer e beber “do lado de cá”.

Túmulo com flores e oferendas: água, banana e pães

As guirlandas usadas como decoração
Os familiares também levam comidas, bebidas para consumo próprio. Tudo é posto nas mesas ou toalhas e compartilhado. Entre as comidas típicas do Dia dos Mortos está o pan de muerto, que tem forma de estrelas, aves ou escadas – que simboliza a subida para o céu. Às vésperas da data as padarias produzem massivamente essas iguarias e rolam feirinhas de rua que vendem exclusivamente esses produtos (mais ou menos como ocorre com o Natal e Páscoa por aqui).
Ao contrário do que se pensa, o Dia dos Mortos na Bolívia não é triste nem sinistro. Na cultura boliviana – fortemente influenciada pela etnia indígena aymara – a morte não é uma tragédia e sim uma etapa do ciclo natural da vida. Em geral, eles não falam que alguém “morreu” e sim que “partiu” ou “se foi”.
Acredita-se também que as almas vem trazer boas colheitas e fertilidade. No início de novembro começa a temporada se plantio no altiplano boliviano (região de maior influencia indígena do país) e a crença é que recepcionar bem os parentes falecidos é essencial para uma boa colheita.

A maioria dos túmulos é vertical e famílias inteiras se reúnem em frente
Alugam-se escadas, orações e lágrimas
Uma coisa que eu achei muito curiosa foi o intenso comércio de produtos e serviços relacionados com essa ocasião. Nas proximidades do cemitério, uma multidão de ambulantes vendem de tudo: uma grande variedade de comidas, flores, frutas, objetos para decoração dos túmulos e bugigangas diversas.
Dentro do cemitério se prestam os mais diversos serviços. Um bem comum é o aluguel de escadas, já que a maioria dos túmulos são verticais (como um predinho). É comum contratar pessoas para tocar música, fazer orações ou até mesmo chorar pelos mortos. As carpideiras são mulheres que, em troca de alguns bolivianos, choram e se lamentam pelo morto – mesmo sem te-lo conhecido.

Meninos recolhendo as escadas alugadas durante o dia
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