O amor nos tempos de coronavírus

Homem e mulher em frente a casa em Bariloche - amor em tempos de coronavírus

O amor nos tempos de coronavírus

Dizem que o amor ultrapassa fronteiras. Mas o amor mudou em tempos de coronavírus. Na minha história, cada um ficou do seu lado da fronteira sem poder ultrapassar até que acabe a pandemia. Eu no Brasil, meu companheiro no Chile.

Eu e o Max nos conhecemos por acaso. Os dois apaixonados por viagens, acabamos nos conhecendo em uma. Eu estava pelo Chile e ele aproveitou um feriado para sair de casa, em Santiago, e visitar novamente o Deserto do Atacama. Por sorte escolhemos fazer o mesmo tour. Por sorte ou azar a van quebrou e tivemos muito tempo para conversar. Depois vieram as conversas pela internet, duas viagens para nos encontrar novamente e alguns meses depois eu estava de mudança para o Chile. Moramos pouco mais de um ano lá e viemos para o Brasil.

casal em um barco de rafting - amor em tempos de coronavírus

Fazendo rafting em Pucón, quando as coisas ainda estavam normais

Mas teve uma mudança que ninguém esperava nessa história: por azar surgiu um vírus lá na China, que depois de alguns meses já tinha se espalhado pelo mundo todo, metade da população mundial ficou em isolamento, os países foram fechando fronteiras e um casal ficou separado por azar, cada um no seu país, esperando tudo isso acabar. 

Parece enredo de um livro ruim. Se eu sugerisse esse tema a uma editora, ia receber um não enfático. Ninguém iria ler uma trama tão piegas, que além do mais é uma história sem pé nem cabeça e nunca iria acontecer. 

Mas aconteceu comigo. E em 2020 aconteceu muita coisa com muita gente. Quem não tem uma história, melhor ou pior, para contar nos tempos de coronavírus?

O Max tinha uma viagem marcada para o Chile no início de março, quando as coisas ainda estavam relativamente normais. Ele chegou em Santiago e dez dias depois as fronteiras do Chile foram fechadas para estrangeiros e os vôos foram suspensos.  Após duas semanas, o Brasil fechou as fronteiras

Ficamos ele lá e eu aqui. Até quando? Ninguém sabe.

Hoje fazem dois meses que estamos separados. Desde março estou em isolamento, trabalhando de home office e, como outras pessoas ao redor do mundo, mudei a maneira de fazer as coisas. A pandemia mexeu na nossa rotina de trabalho, de amizades, de lazer e, no meu caso, de amar também. 

E o amor nos tempos de coronavírus não é só estar junto fisicamente, é estar presente do jeito que dá. Ter um relacionamento no meio da pandemia é entender que amar é compartilhar uma vida, que pode ou não estar na mesma casa, na mesma cidade, no mesmo país.

Assim como no trabalho, nos estudos e na vida social, a internet se tornou a principal aliada. Por meio de mensagens e vídeo chamadas, internet nos possibilita rir juntos, chorar, reclamar do presidente (fazemos bastante isso), contar como foi o nosso dia. Assim vamos levando a vida, sem saber ainda quando nos encontraremos novamente. Nos apegamos ao fato de que cada dia que passa estamos mais perto do dia que tudo isso vai acabar, embora ainda não saibamos que dia é esse. 

Casal em frente a grafitti de coração - amor em tempos de coronavírus

Em uma das muitas viagens a Valparaíso, quando eu morava no Chile

Hoje, a principal preocupação da maioria das pessoas é que as coisas importantes da vida resistam à pandemia: que o emprego não seja perdido, que não falte comida, que o dinheiro seja suficiente e até mesmo que a gente e nossos familiares sobrevivam. 

Do alto dos meus privilégios, tive sorte de ter uma casa, não ter sido demitida assim que a pandemia começou, não passar fome, ter saúde e  e poder me preocupar com que a minha história de amor chegue viva ao fim da pandemia. Me considero com sorte de poder sonhar com o momento que tudo isso vai passar e vamos voltar aos tempos em que o amor ultrapassava fronteiras. 

Eu e o Max vamos nos encontrar de novo, não sabemos quando, mas sabemos que esse dia vai chegar. Essa fase vai ser uma lembrança, dos muitos percalços que qualquer relacionamento passa. Daqui a alguns anos vou contar essa história em mesas de bar, divertindo meus amigos com os “causos” de um amor nos tempos do coronavírus.

Esse texto foi publicado inicialmente no blog da Worldpackers, do qual sou colunista.

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