
01 jun Slow travel: viajando sem pressa em Toulouse
Toulouse era uma cidade que não estava nos meus planos de viagem. Eu estava fazendo WWOOF em uma ecovila a 70 km daqui quando o Pedro – meu parceiro nessa viagem pela França – teve um problemas nas costas e não pode continuar fazendo os trabalhos “na roça”.
“Vamos passar uma semana fora da ecovila, minhas costas vão se recuperando e a gente segue para o próximo WWOOF”, disse o Pedro.
Foi aí que Toulouse caiu de paraquedas no meu roteiro. Era uma cidade grande, turística, fácil de chegar e onde qualquer turista racional e prático passaria no máximo três ou quatro dias. Fiquei oito dias em Toulouse. Eu poderia ter dividido esse período entre dois destinos, estava a menos de três horas de cidades como Bordeaux e Montpellier. Mas conhecer mais lugares me obrigaria a fazer as coisas rápido e perder o gostoso que é viajar sem pressa: preferi ficar só em Toulouse, na pegada slow travel.

Voilà: eis que Toulouse surge do nada no meu roteiro
OK, que é afinal slow travel?
O slow travel é um dos ramos do Slow Movement, que surgiu nos anos 80 na Itália e defende uma mudança no nosso estilo de vida em direção a um ritmo menos acelerado. Mais do que a velocidade, o slow travel tem a ver com a mentalidade que guia a nossa viagem. Se fosse para resumir, eu diria que o slow traveller busca conhecer mais profundamente um lugar em vez de conhecer o maior número de destinos possíveis.
Porque escolhi o slow travel como forma de viajar
Foi uma mudança lenta e gradual. Na verdade eu já estava praticando alguns desses princípios quando descobri o rótulo “slow travel”. Aí lendo mais sobre o assunto, eu fui adquirindo novos hábitos slow, que deixaram a minha viagem mais gratificante e mais “a minha cara”. Essa modalidade funciona para:
- Descansar o corpo: para quem viaja por largos períodos, praticar um pouquinho de slow travel é essencial. Eu não aguentaria passar três meses no esquema de acordar cedo, turistar o dia todo, chegar cansada e repetir a mesma coisa no dia seguinte. Para viagens curtas a pressa funciona, mas para períodos mais longos é muito desgastante.

Parc Prairie des Filtres, à beira do rio Garonne
- Renovar o olhar: depois de um tempo viajando a gente passa a não achar mais graça nas coisas e tudo parece mais do mesmo. Para evitar esse burnout, eu gosto de mesclar atividades turísticas com atividades da minha rotina. Dos oito dias que eu passei em Toulouse, em dois eu simplesmente não saí para passear. Fiquei escrevendo, vendo uma série, ia ao supermercado e cozinhava na casa sem pressa. Essas paradas – nem que sejam de um dia – me ajudam a dar um reset e seguir aproveitando as coisas como se fosse a primeira semana de viagem.
- Trabalhar: como eu trabalho enquanto estou viajando – no blog e em outros trabalhos freelance que vão aparecendo pelo caminho – tenho mais um motivo para aderir ao slow travel. Pelo menos a cada dois dias eu tenho que parar um turno que seja para colocar o blog em dia (isso quando não aparece um freela urgente e eu fico o dia inteiro trabalhando, mas aí já é outra história) e isso vai deixando a viagem mais lenta também.
- Ter uma experiência mais local: com mais tempo (e um pouquinho de curiosidade), você consegue sair do circuito turístico e viver um pouco das coisas locais que o lugar oferece. Em Toulouse eu tive o passeio mais francês ever, um pic nic no Parc La Daurade regado a vinho, mousse de canard (esses “patês” de pato fazem o maior sucesso por aqui), queijo, e uma baguete. Também fui a uma jam session de música árabe e até uma apresentação de maracatu (sim, aquele ritmo lá de Pernambuco).

Parc de la Daurade

Artistas de rua tocando na Place de la Trinité
Couchsurfing e slow travel
É o meu fiel escudeiro no slow travel. Um dos maiores gastos nas viagens é com hospedagem e o couchsurfing possibilita eu estender minha estadia sem comprometer o orçamento.
Se essa modalidade de alojamento possibilita aos viajantes viajar lento, meio que ele nos obriga também a isso. Couchsurfing não é hotel e é de bom tom reservar um tempo para o seu anfitrião. Seja para sair para um bar, comer algo, cozinhar em casa ou passear pela cidade. O que estimula muitas pessoas a receberem hóspedes é justamente esse intercâmbio cultural e conhecer gente nova. Se você quer sair de manhã cedo para turistar e chegar tarde da noite, morto de cansado a ponto de não querer papo com ninguém, talvez a melhor opção seja um hostel ou hotel.
Couchsurfing não é a sua? Encontre aqui opções baratas de hotel.
Dicas para viajar mais lento
- Procurar conhecer a “personalidade” do lugar, ir descobrindo sem pressa suas particularidades, ao invés de cumprir uma listinha de lugares para visitar.
- Dar preferência ao transporte público, bicicleta ou andar a pé ao invés de táxis, ônibus turísticos e tours.

Caminhar pelas ruazinhas do centro de Toulouse <3
- Respeitar seu ritmo físico e mental, simplesmente descansar quanto tiver a fim.
- Sair daquela busca frenética por “conhecer tudo”.
- Estar aberto a convites inesperados e a fazer coisas que você não tinha planejado.
- Olhar com atenção o lugar e não apenas os pontos turísticos.
Ruth Lima
Posted at 13:49h, 01 junhoAmei o post!! Sua cara!!