
29 ago Como conciliar viagens e trabalho de freelancer
Ter uma carreira e viajar o mundo ao mesmo tempo, sendo nômade digital, é o sonho de muita gente. Mas conciliar viagens e o trabalho de freelancer não é tão fácil assim e algumas pessoas acabam se frustrando e desistindo pelo caminho. Veja algumas dicas de quem já está há seis anos nessa rotina e saiba como aproveitar as viagens sem deixar de lado o trabalho.
Por que é difícil conciliar viagens e trabalho
A gente não está acostumada a ter autonomia
Desde criança, a gente tem um espaço vigiado da obrigação e depois é liberado para o lazer. A escola é lugar de estudar, a gente ficava preso na sala, com a professora olhando. Já nas férias a gente tinha liberdade, podia brincar, ir à praia ou piscina, dormir tarde. Na vida profissional, a mesma coisa: a gente passa cinco dias no escritório (pelo menos era assim antes da pandemia) sob o olhar do chefe e no fim de semana podemos pode ser feliz e esquecer qualquer responsabilidade.
A gente não aprendeu a equilibrar obrigação e lazer por conta própria, sempre houve um chefe, um professor, um relógio de ponto para nos fazer a cumprir o nosso dever. A gente não aprendeu a ter autonomia e cumprir nossos deveres, mesmo quando temos a oportunidade de estar nos divertindo. Por isso, é difícil dizer não à diversão quando não tem alguém nos obrigando.
As pessoas ao seu redor estão de férias
A maioria das pessoas que você vai conhecer em uma viagem estão de férias. Seus companheiros de hostel, pessoas que você conheceu no walking tour ou num barzinho na zona turística da cidade. É difícil manter o ritmo de trabalho quando você é o único que não tem todo o tempo livre, o que implica às vezes dizer não quando te convidam para um tour ou uma festa.
Aprendemos que viagem = férias
É normal as pessoas acharem que nômade digital não trabalha. Por que isso? Porque vivemos viajando, logo, parece que estamos de férias. Aprendemos associar viagem a férias e, quando a gente vira nômade digital, também reproduzimos essa lógica, mesmo sem querer. A gente pensa “cê é loko que eu vou trabalhar hoje, eu tô na Tailândia!” e deixa o trabalho de lado.

No Iberostar Praia do Forte, Bahia. Para uma nômade digital, viagem não é estar o tempo todo assim.
Viagens e trabalho de freelancer: dicas para dar certo
Desaprenda velhos conceitos
Tem que virar a chavinha mesmo. Desaprenda esses velhos conceitos sobre viagens, trabalho, obrigação e lazer. No início é difícil, porque a gente foi educada assim. Mas para o trabalho remoto dar certo, a gente precisa entender que é nosso próprio chefe e que nomadismo digital não é férias. Nômade digital não pode pensar com cabeça de trabalhador de escritório. Como dizem os coachs, 😂 tem que mudar o mindset.
Viaje devagar
Eu escrevi nesse texto sobre como ganhar dinheiro escrevendo sobre viagens que a gente precisa dividir o tempo entre a viagem e o trabalho de freelancer. Por isso, o tempo que você passa em um determinado local vai ter que ser maior do que um “turista normal”. Não rola fazer uma eurotrip de sete países em 15 dias. Aliás, tentar manter o mesmo ritmo acelerado de uma viagem de férias só causa stress e frustração.
Viajando devagar: veja aqui mais textos sobre slow travel
Defina – e siga – seu cronograma de trabalho
Defina quando vão ser seus horários e dias de trabalho e quando vai ser o tempo livre. Aqui não tem fórmula pronta: tem quem prefira trabalhar todos os dias pela manhã e ter o resto do dia livre, tem os que gostam de se trancar no quarto por três dias trabalhando loucamente e ter o resto da semana livre.
Eu prefiro concentrar todas as demandas em alguns dias de trabalho intenso e depois ter tempo livre, principalmente se eu tiver viajando para algum lugar que tenha passeios de dia inteiro. Varia muito como os nômades digitais organizam a sua rotina, você precisa entender o seu ritmo, montar um cronograma — e segui-lo!
O que com certeza não funciona é “trabalhar quando sobrar um tempinho”. Esse tempinho nunca sobra, as demandas se acumulam e você fica em um eterno sofrimento de “eu devia estar trabalhando”.
Encontre um local adequado para trabalhar
Esse lugar pode ser o mesmo que você está hospedado. Em um quarto privativo é mais fácil encontrar um lugarzinho para o seu “home office”. Para quem, como eu, costuma ficar em hostels ou em couchsurfing, pode ser um pouco mais difícil.
Se a sua hospedagem não conte com um lugar legal para trabalhar, procure um. Bibliotecas e cafés (na Europa tem de monte, com entrada grátis e internet ) ou coworkings (o Sudeste Asiático e regiões muito procuradas por nômades pelo baixo custo de vida costumam oferecer esse serviço por um preço acessível) são boas opções. O Desks Near Me é um buscador de mesas e escritórios disponíveis em coworkings e outros espaços compartilhados.
A gente que é nômade digital vai desenvolvendo a habilidade de trabalhar em qualquer lugar, abre o laptop no chão do aeroporto mesmo e termina um job. Mas isso é para ser exceção na rotina e não uma regra. No dia a dia, é importante é achar um local onde haja um mínimo de conforto e silêncio. Pode parecer besteira, mas trabalhar sempre em um lugar incômodo e barulhento deixa você mais estressada, cansada e a produtividade vai lá pra baixo.
Tire férias de vez em quando
Não é porque você está viajando, que você está de férias. Como qualquer outro profissional, quem leva a vida como nômade digital precisa de um descanso das obrigações de trabalho.
Porém, a tão sonhada flexibilidade de tirar férias quando quiser pode ser um tiro pela culatra: como somos nossos próprios patrões, não tiramos férias nunca. De tempos em tempos, tire no mínimo uma semana de folga, sem ter preocupações profissionais. Melhor ainda se for em um lugar sem acesso à internet.
O que eu aprendi sobre viagens e trabalho em seis anos como freelancer
No início, é muita coisa para dar conta. É difícil encontrar o ritmo de trabalho mais adequado, se acostumar a não ter chefe, mudar de “escritório” com muita frequência. Isso somado à instabilidade financeira da vida de freelancer e os altos e baixos de demanda (uma semana tem muitíssimo trabalho, na outra não tem nada). É normal gente se sentir frustrada e achar que não vai dar certo. O que eu aprendi foi: a gente dá conta, com o passar do tempo.
Só com a experiência a gente descobre o próprio ritmo de trabalho, como organizar as próprias demandas, quanto tempo passar em cada destino. Muitas das coisas que eu tinha muita dificuldade no começo (como controlar minhas semanais horas de trabalho) eu faço quase de maneira automática agora, sem sofrimento. Não se cobre que no primeiro mês (ou na primeira viagem) você já esteja administrando perfeitamente demandas e horários, além de curtir o lugar na medida certa. Com o tempo você vai ficar experiente nessas coisas.
Ser nômade digital e freelancer exige um aprendizado, então tenha paciência com você, que está aprendendo.
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